Antes de se aposentar, Barroso pede votação sobre descriminalização do aborto

No seu último dia como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso solicitou ao presidente da Corte, Edson Fachin, a realização de uma sessão virtual extraordinária para retomar o julgamento que discute a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. O pedido foi feito nesta sexta-feira (17/10), véspera de sua aposentadoria, que se inicia neste sábado (18/10).


A movimentação do ministro representa uma reviravolta. Em 2023, Barroso havia pedido destaque na ação, o que retirou o tema do plenário virtual e o transferiu para o presencial. Agora, ao cancelar esse pedido, ele devolve o processo à modalidade virtual, permitindo que seu voto seja computado antes de deixar o tribunal.

O processo em questão é a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, apresentada pelo PSOL em 2017, que busca descriminalizar o aborto voluntário nas 12 primeiras semanas de gravidez. Até o momento, apenas a ex-ministra Rosa Weber votou, manifestando-se favorável à descriminalização pouco antes de sua aposentadoria, no ano passado. Barroso segue caminho semelhante.

Durante os dois anos em que presidiu o STF, o ministro evitou pautar o caso, alegando que o debate exigia maturidade institucional e social. Em entrevistas recentes, ele declarou que “ser contra o aborto é diferente de defender a prisão de uma mulher que passou por esse infortúnio”, reforçando seu entendimento de que a criminalização viola direitos fundamentais.

A posição de Barroso sobre o tema é conhecida. Em 2016, na Primeira Turma do STF, ele, Rosa Weber e Edson Fachin se manifestaram pela descriminalização em um habeas corpus envolvendo médicos de uma clínica clandestina no Rio de Janeiro. Na ocasião, o ministro argumentou que a punição estatal afronta direitos como a autonomia feminina e a integridade física e psíquica da gestante.

Atualmente, o aborto é permitido no Brasil em casos de estupro, risco à vida da mãe e, desde 2012, quando o feto é anencéfalo. A proposta do PSOL amplia essas permissões, defendendo a interrupção voluntária até a 12ª semana, independentemente da situação da mulher.

Fontes próximas ao Supremo indicam que, mesmo com o voto de Barroso, a tendência majoritária da Corte ainda é contrária à descriminalização. Apenas Fachin e possivelmente Cármen Lúcia são apontados como favoráveis.

Com o registro do voto, o sucessor de Barroso, que deve ser o atual advogado-geral da União, Jorge Messias, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não poderá se manifestar nesse julgamento.

Por Heloísa Cipriano


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