Por Willamis França
O futuro do transporte coletivo de Rio Branco está, neste momento, nas mãos da juíza da 2ª Vara da Fazenda Pública. Após analisar a extensa Ação Popular que denuncia irregularidades na gestão do sistema de ônibus da capital, o Ministério Público do Acre (MPAC) emitiu um parecer contundente: recomenda a concessão de uma liminar que pode alterar profundamente o modelo adotado pela Prefeitura e pela RBTRANS nos últimos quatro anos.
A partir de agora, caberá à magistrada decidir se acolhe ou não os pedidos que apontam falhas graves na condução do serviço. Segundo o MP, os indícios de ilegalidades são robustos e demandam intervenção urgente do Judiciário.

O que está em jogo
A Ação Popular, proposta por um cidadão, aponta que o Município de Rio Branco tem mantido práticas que violam a legislação e comprometem o uso correto dos recursos públicos. Entre os principais pontos questionados estão:
- Quatro anos de contratações emergenciais com a Ricco Transportes baseadas na mesma “emergência”, apesar de a lei permitir esse tipo de contratação por, no máximo, um ano.
- Ausência de licitação para escolha da empresa que opera o transporte coletivo, mesmo após promessas reiteradas da gestão.
- Repasses milionários sem lastro técnico, sem estudos tarifários, sem transparência e sem demonstrar a real estrutura de custos do sistema.
- Aumento do subsídio público por meio da Lei Complementar nº 352/2025, sem a publicação das análises de impacto financeiro exigidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
Esses são os pilares da ação que agora dependem da decisão judicial — uma decisão que pode redefinir os rumos do transporte coletivo na capital.
O que o autor pede e o MP concorda

Para o Ministério Público, a ação é legítima e revela um quadro que se arrasta desde 2021, exigindo interrupção imediata do ciclo de irregularidades.
O MP recomenda que a juíza determine:
1. Fim das prorrogações emergenciais
Que a Prefeitura e a RBTRANS cessem imediatamente as renovações emergenciais com a Ricco e publiquem o edital de licitação em até 60 dias.
2. Repasses condicionados à transparência
Nenhum recurso público deve ser repassado sem:
- estudo tarifário publicado;
- memória de custos detalhada;
- matriz de desempenho (viagens cumpridas, frota, idade dos ônibus etc.);
- prestação de contas mensal auditável;
- publicação de microdados;
- utilização de conta vinculada específica para o repasse.
3. Transparência ativa imediata
Em até 10 dias, a Prefeitura deve publicar todos os contratos, aditivos, processos de dispensa, indicadores operacionais e pagamentos desde 2022.
4. Governança e plano de contingência
Nomeação formal do gestor e fiscal do contrato, além da elaboração de um plano de contingência que impeça colapso do sistema.
5. Multas e bloqueios
Previsão de multas diárias e possibilidade de bloqueio parcial da conta vinculada em caso de descumprimento.
MP alerta: ilegalidades são continuadas e exigem intervenção
O parecer destaca que:
- o uso da mesma “emergência” por quatro anos para justificar contratações diretas é proibido pelo Supremo Tribunal Federal;
- a ausência de licitação contraria a legislação e as decisões do próprio STF;
- os repasses sem controle adequado representam risco contínuo ao erário;
- a falta de transparência viola princípios essenciais da Administração Pública.
Para o MP, manter o modelo atual sem intervenção judicial representa ameaça à legalidade, ao patrimônio público e ao próprio usuário do transporte coletivo.
Com o parecer favorável do Ministério Público, a situação entra em um novo estágio: cabe à juíza decidir se rompe ou não o ciclo de contratações emergenciais e ausência de transparência que marca o transporte público da capital desde 2021.
A decisão poderá:
- obrigar a Prefeitura a realizar a licitação do serviço;
- impor rigor no controle dos repasses;
- abrir a “caixa-preta” do sistema;
- e redefinir o modelo de funcionamento do transporte coletivo de Rio Branco.
Enquanto isso, usuários, operadores, gestores públicos e toda a sociedade aguardam o posicionamento da magistrada — um julgamento que pode marcar um dos capítulos mais importantes da história recente do transporte público da capital.