Drones iluminam o céu, mas buracos nas ruas e ramais intrafegáveis permanecem na sombra

Enquanto milhares de olhos se voltavam para o céu na noite de sábado (20), em Rio Branco, a capital acreana testemunhou um espetáculo inédito na Região Norte: um show de mais de 600 drones iluminando a orla da Gameleira com imagens do nascimento de Jesus. Na Praça da Revolução, o coral da Igreja Batista do Bosque entoava cânticos natalinos, sob aplausos de líderes religiosos e autoridades. O prefeito Tião Bocalom, ao lado da primeira-dama Kelen e do secretário de Infraestrutura Cid Ferreira, celebrou a inovação vinda do Rio de Janeiro, equipamentos transportados em dois aviões, com equipe técnica chegando um dia antes para montar o que ele chama de “algo novo e bonito que o povo merece”.

Autoridades não economizaram elogios. O vice-prefeito Alysson Bestene destacou o “cuidado com as pessoas” aliado ao desenvolvimento, enquanto Cid Ferreira exaltou a “maturidade da gestão” por trazer atrações globais “há poucos anos no mundo”. O vereador Joabe Lira, presidente da Câmara, reforçou que virou “tradição” festejar o Natal na praça cheia. Público como a historiadora Karen Farias e Maria Júlia, que comparou o show aos do Japão, saíram encantados, revigorados pelo “emocional e leveza”.

Mas, sob as luzes passageiras dos drones, que duraram apenas 15 minutos antes de a equipe voltar ao Sudeste, persiste o contraste gritante com o dia-a-dia da população. Rio Branco convive com ruas esburacadas, ramais intransitáveis que impedem o escoamento de uma produção agrícola insuficiente por falta de incentivos públicos, postos de saúde sem remédios básicos e médicos, coleta de lixo precária e falta crônica de água tratada. Gastos “tubulares” com empresas de fora do Acre para esses eventos de promoção política, aplaudidos não só pelo espírito natalino, mas por interesses outros, levantam a questão: será que o brilho dos drones tapa os buracos das vias ou enche farmácias pública de medicamentos básicos?

O pastor Agostinho Gonçalves falou de um “coral além das quatro paredes”, louvando com a comunidade. Ironia sutil: enquanto o céu se iluminava com o mapa do Acre, famílias seguiam sem as bases para uma vida digna. Inovações como essa emocionam, sim, mas não substituem gestão que priorize o essencial. Em uma cidade onde o Natal deveria ser esperança concreta, o espetáculo reflete mais o desejo de visibilidade do gestor do que soluções para o povo. Cabe perguntar: depois dos drones, virão asfalto, saúde e água? Ou só mais luzes no céu?


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