No coração da floresta, a 228 quilômetros de Rio Branco, um grupo de mães de Manoel Urbano viveu dias de alívio e esperança. Depois de meses aguardando uma consulta especializada para os filhos, elas finalmente receberam atendimento, sem precisar sair de casa.

Entre essas mães está Francisca Carvalho, mãe do pequeno Caleb, de apenas dois anos. Desde cedo, ela percebeu que o comportamento do filho era diferente das outras crianças.
“Ele é muito agitado, não fala direito, e o pessoal comenta que pode ser autismo. Mas ir até Rio Branco é caro, e nem sempre a gente tem dinheiro pra passagem e pra ficar por lá”, contou, emocionada.
Essa é a realidade de muitas famílias do interior do Acre, onde a distância até a capital pode significar meses de espera por um diagnóstico. Mas, desta vez, a ajuda fez o caminho inverso, ou seja, foi a saúde que veio até elas.
Uma força-tarefa pela inclusão
O Programa Saúde Itinerante Especializado em Neuropediatria, coordenado pela Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), levou a Manoel Urbano uma equipe multidisciplinar formada por médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, nutricionistas, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.

Durante a ação, realizada na UBS Josefa Nunes, dezenas de crianças receberam atendimento especializado muitas delas pela primeira vez.
De acordo com a coordenadora do programa, Rosemary Muniz, o objetivo é reduzir o tempo de espera e facilitar o acesso ao diagnóstico precoce. “A gente veio pra fazer as consultas de primeira vez, acompanhar os casos e garantir que as crianças tenham um atendimento de qualidade aqui mesmo na região”, explicou.
Esta foi a 14ª edição do programa, que deve atender cerca de 100 crianças de Manoel Urbano e das comunidades vizinhas.
Histórias que emocionam
A dona de casa Josiane Barros também aproveitou a oportunidade para levar o filho, Heithor Levy, de 4 anos, para uma avaliação.

“Ele parou de falar com dois anos. Só fazia barulhos, imitava som de carro e roçadeira. Eu já estava preocupada e achando que ia demorar muito pra ter resposta”, relatou.
Com o atendimento especializado, Josiane agora tem um caminho traçado para o acompanhamento do filho.
“Ter os profissionais vindo até nós facilita tudo. É uma parceria maravilhosa”, comemorou.
Mais do que consultas: um novo começo
O trabalho das equipes não termina com o atendimento. Além das consultas, os profissionais emitem laudos, iniciam terapias e encaminham famílias para acompanhamento contínuo um passo fundamental para garantir o desenvolvimento das crianças.
Para Esterlinda Barbosa, coordenadora da atenção básica do município, essa presença no interior é transformadora. “Quando o atendimento vem até as nossas crianças, a gente evita o desgaste da viagem, o gasto e ainda reduz o tempo de espera. É um cuidado mais humano e mais perto da realidade das famílias.”
Esperança renovada
Para mães como Francisca, o Saúde Itinerante foi mais do que uma ação de saúde, foi o fim de uma longa espera e o início de uma nova fase cheia de possibilidades.

“Agora eu sei que meu filho vai ter acompanhamento. Antes, parecia impossível. Hoje, eu tenho esperança”, disse, com um sorriso que traduz o sentimento de tantas outras famílias.
Em meio às ruas simples e ao verde que abraça Manoel Urbano, o som das vozes das crianças atendidas ecoa diferente. É o som da esperança que chegou trazida pela saúde que não conhece distância.
Por Andressa Teles/A Crítica Acre